sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Clássicos da Cinemateca - 12 Homens e uma Sentença

“É sempre difícil deixar o preconceito fora de uma questão dessas. Não importa pra que lado vá, o preconceito sempre obscurece a verdade.”

– Você está falando de uma questão de segundos! Ninguém pode ser tão preciso!
– Bem… Acredito que um depoimento que pode colocar um garoto numa cadeira elétrica deva ser preciso!
Sidney Lumet faz parte do panteão hollywoodiano. O cineasta foi um dos deuses do cinema americano, um dos melhores diretores de atores que Hollywood conheceu e um excelente contador de histórias. O incansável e prolífico cineasta nos legou uma filmografia extensa (mais de 50 filmes, além de diversos trabalhos para a televisão), em que abundam obras-primas como 12 Homens e uma Sentença (1957), Um Dia de Cão (1975), Rede de Intrigas(1976), Serpico (1973), O Príncipe da Cidade (1981) e O Veredito (1982)Lumet trabalhou até os 82 anos e seu último filme foi o ótimo Antes que o Diabo Saiba que Você Está Morto (2007).
Lumet foi um dos grandes retratistas de Nova York e é tido como um dos últimos moralistas de Hollywood, tendo tratado de questões fundamentais como justiça e ética. O realismo social e a complexidade psicológica dos personagens são algumas das características mais marcantes do cinema do diretor.
Os filmes de Lumet são geralmente palco de grandes atuações e o cineasta trabalhou, ao longo de sua carreira, com muitas das maiores estrelas hollywoodianas, como: Katharine Hepburn, Ingrid Bergman, Henry Fonda, Sean Connery, Marlon Brando, Paul Newman, Al Pacino, Peter Finch, Richard Burton, Faye Dunaway, só para citar alguns nomes. 

– De acordo com o depoimento, o rapaz parece culpado... Talvez ele seja. Eu me sentei lá na corte por seis dias ouvindo enquanto as evidências era apresentadas. Todos pareciam ter tanta certeza, você sabe, eu... Eu comecei a ter um sentimento peculiar sobre esse julgamento. Quero dizer, nada é tão certo.
Doze Homens e uma Sentença é a adaptação de uma peça feita para a televisão (teleplay). A peça, escrita por Reginald Rose e dirigida por Franklin Schaffner, foi ao ar em 1954. O filme é a estreia de Lumet no cinema. O diretor já havia chamado a atenção pelo seu trabalho na televisão americana, como nas séries The Alcoa Hour (1956) e Studio One (1957). O ator Henry Fonda, além de protagonizar Doze Homens e uma Sentença, também atuou como produtor e foi o responsável por trazer Lumet para o projeto.
O filme conta a história de um júri de 12 homens que deve deliberar sobre a inocência ou culpa de um jovem, acusado de assassinar o pai. O que parecia ser uma decisão simples se complica quando o Jurado 8 (Henri Fonda) questiona a falta de provas para incriminar o rapaz. Um longo e acalorado debate se instaura entre os jurados, até que eles cheguem a um consenso.

– Estamos tentando colocar um homem culpado na cadeira elétrica onde é o lugar dele, aí um homem começa a contar contos de fadas e estamos escutando!
Doze Homens e Uma Sentença focaliza a confrontação dos jurados e os conflitos que surgem a partir das diferentes opiniões, personalidades, origens. Eles são identificados não pelos nomes, mas por números e pelas profissões, o que contribui para a criação de tipos sociais bem definidos. Aos poucos, o espectator se familiariza com o perfil de cada um deles.
Os personagens encontram-se enclausurados na sala do júri e o filme se passa quase integralmenre entre quatro paredes. Para dar a progressiva sensação de claustrofobia, Lumet posiciona inicialmente as câmeras acima do nível dos olhos e utiliza lentes que dão a impressão de maior distância entre os personagens. À medida em que o filme progride, o diretor abaixa o posicionamento da câmera, troca as lentes para que o cenário pareça mais perto dos atores e passa a utilizar os closes com maior frequência.
Uma das grandes forças do filme é a performance do elenco. Lumet submeteu os atores a longos ensaios e chegou a deixá-los fechados durante horas na sala, repetindo as falas sem filmá-los, para que eles sentissem na pele o desconforto e a angústia dos personagens. O resultado é mais do que satisfatório. Destacam-se o grande Henry Fonda e seu antagonista Lee J. Cobb, em uma atuação inspirada. Os diálogos afiados e inteligentes permitem uma reflexão ainda atual sobre o papel e a eficácia do sistema judiciário.
Considerado um dos melhores filmes de tribunal já realizados, 12 homens e Uma Sentença é constantemente utilizado em cursos e seminários para ilustrar dinâmicas de grupo e resolução de conflitos. Em seu filme de estreia, Lumet já demonstra sua imensa habilidade de explorar os dramas humanos, as relações interpessoais, a dificuldade de comunicação do ser humano, a incompreensão e o egoísmo.
Clássico incontornável, obra-prima celebrada por críticos e cinéfilos, 12 Homens e Uma Sentença foi indicado a três Oscars (Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Roteiro), além de ter levado o Leão de Ouro no Festival de Berlim, em 1957.

– Eu não sei realmente o que é a verdade. E suponho que ninguém jamais saberá.

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