segunda-feira, 7 de maio de 2012

Tiranossauro - 2011

Título Original: Tyrannosaur
País: Inglaterra
Lançamento: 2011
Direção: Paddy Considine
Atores: Peter Mullan, Olivia Colman, Eddie Marsan
Duração: 92 min
Gênero: Drama

"It's dog all together!"


Hannah e Joseph - o socorro pode vir do lugar mais inesperado. 


Um dos filmes que mais chamaram a atenção no cenário indie em 2011, foi o britânico Tiranossauro. O premiado longa-metragem é apenas o segundo filme como diretor de Paddy Considine e seu primeiro longa-metragem. Considine começou sua carreira como ator em 1999 e, desde então, esteve presente em mais de 20 filmes, dentre eles O Ultimato Bourne (2007) e Terra dos Sonhos (2004). Apesar do sucesso como realizador e de ter sido considerado uma das maiores revelações como tal, neste ano que passou, o muiti-talentoso inglês de 37 anos não pretende abdicar de sua consistente carreira como intérprete para se dedicar apenas à direção. Nos seus próximos projetos, já anunciados, ele prestará seus serviços como ator. Além de atuar e dirigir, Considine tem créditos de roteirista. É dele, inclusive, o roteiro de Tiranossauro. O filme foi lembrado em diversas premiações em 2011/2012, tendo levado prêmios no Sundance Film Festival, no BAFTA, no British Independent Film Awards e tendo sido indicado ao Independent Spirit Awards.  

Em Tiranossauro, Considine retoma os personagens principais do seu premiado curta-metragem de 16 minutos, Dog Altogether (2008). Joseph é um homem amargurado, violento, atormentado pela raiva e pela culpa. Levando uma vida sem sentido e sem paz, o cinquentão parece ver as coisas piorarem após matar o próprio cachorro em um acesso de raiva e ao ter que lidar com a doença terminal do seu melhor amigo. Muito do passado do protagonista resta obscuro, mas tudo nos leva a crer que a vida de Joseph foi marcada por inúmeros erros, sofrimentos e prováveis crimes. Certo dia, ele invade a butique de Hannah que, ao invés de expulsá-lo ou chamar a polícia, ora por ele. A vida de Hannah também é marcada pela dor. A moça sofre por não poder ter filhos e ainda tem que lidar com um marido sádico e desequilibrado. Os caminhos de Hannah e Joseph se cruzam e, a partir de então, uma relação inusitada se estabelece.

Peter Mullan interpreta um homem marcado pelo desespero e em busca de redenção.

Uma das maiores qualidades do cinema independente é a maneira com a qual as relações humanas são desvendadas e exploradas. Tais relações ocupam quase sempre o primeiro plano das narrativas, calcadas no quotidiano das pessoas, no que pode ocorrer de mais absurdo e chocante entre quatro paredes, numa comunidade ou no seio de uma família. É louvável o interesse dos cineastas independentes pelo ser humano, suas incongruências, seus monstros internos e sua beleza. Nada é mais devastador do que a dor e a miséria humana. Considine escreveu e realizou um longa-metragem pertubardor, por vezes revoltante, mas, sobretudo, humano. Joseph e Hannah, os personagens centrais, são pessoas à beira de um abismo, que se encontram para se salvarem mutuamente. 

Em certo momento, um amigo de Joseph diz "Somos todos cachorros" (It's dog all together - referência ao título do primeiro filme do diretor).  A figura do "cachorro" ocupa um lugar fundamental na narrativa. Não só os personagens levam uma "vida de cachorro", ou seja, uma vida infeliz, cheia de misérias, como se sentem tratados como cachorros pela vida, como animais, seres isentos de humanidade. O "sacríficio" dos dois cães na trama tem significados muito fortes. Considine sabe que pouca coisa é mais impactante para o espectador, principalmente para aquele proveniente do mundo ocidental, do que cenas de violência contra cachorros. O diretor/roteirista utiliza os sacrifícios para marcar as mudanças no protagonista. O primeiro assassinato é o estopim da derrocada do personagem, o segundo representa a morte do lado selvagem do personagem, um sacrifício necessário para que ele se reerga. Ambas as mortes são injustas, mas tem valores diferentes. Na primeira, Joseph fere quem o ama, assim como fazia com sua falecida mulher. A segunda é compreendida pelo personagem como uma atitude necessária, uma forma de combater a injustiça e o mal do mundo. Joseph carrega o luto pelas duas mortes.

Olivia Colman confere vulnerabilidade e profundidade a uma personagem trágica e encantadora.

Além do ótimo e sensível roteiro, Considine confere ao filme um tempo e um ritmo próprios, dando um peso necessário a cada descoberta, investindo nas reações dos personagens, nas trocas de olhares, nos não-ditos, nos silêncios. Merecem elogios também a bela trilha sonora de Barker e Baldwin, a fotografia de Erik Wilson (que confere um tom invernal e cinzento à história), a inteligente edição de som e a eficiente montagem. O filme ainda se beneficia muito das atuações de seu ótimo elenco, a começar pelo sensacional ator escocês Peter Mullan, com sua maravilhosa e profunda voz grave. A performance do ator impressiona pelo vigor, pela entrega, pela maneira com a qual ele retrata a jornada emocional de seu personagem. A atuação de Olivia Colman é uma pequena jóia. A atriz encarna com uma sensibilidade fora do comum sua personagem trágica e é difícil não se emocionar com sua performance. Eddie Marsan, por sua vez, surge assustador e sua participação é extraordinária.


Tiranossauro é um filme nó-na-garganta, uma obra arrasadora e envolvente. Sem dúvida, trata-se de um dos melhores longas independentes de 2011. 


Assista ao trailer:



4 comentários:

  1. Esse filme acabou comigo...

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  2. Mto intenso mesmo... adorei o filme e a crítica.

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  3. Ainda não vi críticas negativas a esse filme.

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  4. Para mim foi até agora, o melhor visto este ano!
    Fiquei totalmente preso às três personagens do filme. É impossível não se apaixonar. Os atores encarnam de tal maneira as personagens, que é como se estivéssemos a ver os fatos dentro de nós mesmo!
    Olivia Colman me deixou até doente ao ver sua interpretação arrebatadora, isso sem falar na não menos estupenda atuação do ator Peter Mullan numa atuação tão espetacular quanto a que ele mostrou em outra obra prima, no filme "Cargo" ao lado do espetacular ator Alemão Daniel Brühl; e não podemos esquecer Eddie Marsan que neste filme, no papel do marido covarde que agride a mulher, desempenhou sua arte de forma inigualavel.

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