terça-feira, 20 de março de 2012

Kick-Ass: Quebrando Tudo - 2010

Título Original: Kick -Ass
Lançamento: 2010
País: Reino Unido / EUA
Direção: Matthew Vaughn
Atores: Aaron JohnsonNicolas CageChloë Grace Moretz, Christopher Mintz-Plasse e Mark Strong
Duração: 117 min
Gênero: Comédia / Ação


Kick-Ass e Hit-Girl
Kick-Ass é o terceiro longa-metragem realizado por Matthew Vaughn, diretor inglês de 41 anos. Apesar de ter apenas quatro filmes no currículo, Vaughn já apresenta um conjunto de obras bastante consistente. Ele dirigiu os ótimos Nem Tudo É o Que Parece (2004), Stardust – O Mistério da Estrela (2007) e o excepcional X-Men: Primeira Classe (2011). Muito antes de se tornar diretor, ele já possuía uma vasta experiência como produtor de cinema e televisão. Ele foi, por exemplo, um dos produtores do cult Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes (1998). Sem dúvida, Matthew Vaughn é um nome a se guardar. Em Kick-Ass, o diretor repagina o gênero “filme de super-herói”, acrescentando influências de outros gêneros e criando uma narrativa que consegue soar nova e inventiva, mesmo ao seguir certas fórmulas e clichês.

O filme é centrado no adolescente Dave Lizewski (Aaron Johnson). O protagonista é o perfeito loser (derrotado). É notório o fascínio que o cinema americano, em especial, tem pela figura do loser e, consequentemente, pela volta por cima desse típico derrotado. Dave não possui nenhum talento particular, não é popular na escola, é ignorado pelas garotas, é zombado pelos amigos e ainda apanha dos valentões (para não dizer criminosos) do seu bairro. Sendo, particularmente, sensível à injustiça que o rodeia e sendo fã inveterado de histórias em quadrinhos, o adolescente resolve se tornar um super-herói mascarado. Eventualmente, o garoto, que adota o pseudônimo de Kick-Ass (Chuta-Bundas), chama a atenção da mídia e de dois verdadeiros super-heróis: Big Dad (Nicolas Cage) e Hit-Girl (Chlöe Moretz), pai e filha. Esses dois últimos são justiceiros que tentam acabar com toda a rede criminosa do traficante Frank D’Amico (Mark Strong), um perigoso gângster local.


Big Dad e Hit-Girl
O roteiro de Kick-Ass foi escrito por Jane Goldman e pelo próprio Matthew Vaughn. O filme é a adaptação da irreverente série de histórias em quadrinhos de mesmo nome, escrita por Mark Millar, ilustrada por John Romita Jr e publicada, pela primeira vez, em 2008. Kick-Ass, o filme, é recheado de referências a célebres super-heróis, como Homem-Aranha, Batman, Superman, entre outros. O universo da história em quadrinhos é perfeitamente integrado à narrativa. Além de utilizar, os marcadores de passagem de tempo típicos do comic book, Vaughn ainda produz uma excelente sequência que recria digitalmente as páginas dos quadrinhos dando, no entanto, um aspecto tridimensional ao desenho. Vaughn consagra essa ótima e eficiente sequência a um dos momentos-chaves do filme, um importante flashback-resumo, que explicita as motivações de um dos personagens principais. O filme adota uma interessante dimensão metalinguística e reflexiva, já que, retratando o universo de super-heróis, ele parece se questionar sobre a importância de tais figuras no imaginário das pessoas e a necessidade que temos em criar tais personagens. 

Um dos maiores atrativos de Kick-Ass é a maneira com a qual paródia e humor são inseridos na trama. O roteiro do filme brinca incessantemente com as expectativas do público com relação ao gênero “filme de super-herói” e a quebra dessa expectativa. Já em sua deliciosa cena de abertura, o filme surpreende o espectador desprevenido. A violência do acontecimento inicial é compensada pelo humor negro da narração. A forte dimensão parodística de Kick-Ass o aproxima das séries Todo Mundo em Pânico e Corra Que a Polícia Vem Aí.  O filme, no entanto, não se conforma com a reciclagem e derrisão de outros filmes, ou seja, ele não se contenta em fazer piada em cima dos clichês e códigos de gêneros específicos. É interessante observar também os momentos em que o filme “se leva a sério”.

Uma das melhores cenas do filme. 
Todo o universo de Dave/Kick Ass é tratado sob o viés do humor e da paródia. O protagonista não tem nada de heroico, além das boas intenções. O fato de o personagem assumir também o papel de narrador do filme cria uma identificação e proximidade maiores do espectador com o protagonista. Já Big Dad e Hit Girl são, sim, mostrados como verdadeiros super-heróis, pessoas altamente treinadas e habilidosas e, de certa forma, superiores. A diferença de tratamento entre os personagens fica nítida nas cenas de ação. Enquanto os combates de Hit-Girl são filmados como grandes cenas de ação, as de Kick-Ass se assemelham à comédia pastelão.

Vaughn, por sinal, revela uma fina habilidade ao dosar a ação e a comédia. As cenas de luta de Hit-Girl e Big Daddy são de tirar o fôlego, coreografadas de maneira magistral. Provavelmente, o diretor se inspirou em filmes de arte marcial ou mesmo no recente Kill Bill para idealizar tais cenas. É através da decupagem de tais cenas, do uso da trilha sonora (importantíssima no filme) e da precisão da direção, que Vaughn consegue transformar uma menininha de 11 anos (Hit-Girl) em uma matadora em série. Para nos fazer rir, por outro lado, Vaughn aposta, por exemplo, nas gags visuais, como no momento em que um adesivo no espelho parece fazer um lacinho cor de rosa na cabeça de Kick-Ass. O diretor investe também na já mencionada quebra de expectativa, na ironia e na narração dirigida diretamente ao espectador. O gênero comédia adolescente certamente exerceu grande influência nas escolhas do cineasta.

Aaron Johnson interpreta Kick-Ass.
O elenco principal do filme é formado, em sua maioria, por jovens atores. O grande destaque é Chlöe Moretz que vive a personagem mais interessante do longa, a apaixonante Hit-Girl. A jovem atriz é, sem dúvida, uma das maiores promessas Hollywood. Hit-Girl é a grande heroína do filme, a mais perigosa, forte e destemida. Além disso, a personagem de Chlöe Moretz é boca-suja, temperamental e politicamente incorreta. Sua aparência fofinha contrapõe-se com seu gênio nada infantil. É dela uma das falas mais divertidas e inusitadas do filme, que vai de encontro ao tom parodístico do mesmo. Quando Kick-Ass pergunta como poderá encontrá-la, ela responde: “Contate o escritório do prefeito. Ele tem um sinal especial que brilha no céu... com o formato de um pinto gigante”. Mas não é somente a jovem atriz que brilha. Aaron Johnson faz um excelente trabalho na pele do protagonista, revelando um ótimo timing para comédia. Da voz fanha e nada ameaçadora, até a postura desajeitada, a composição do ator é muito interessante. O filme ainda conta com ótimas participações de Christopher Mintz-Plasse e Mark Strong. Nicolas Cage, por sua vez, se entrega a mais uma composição caricata e estranha, que acaba por funcionar no filme.

Um aspecto do filme que talvez tenha passado um pouco despercebido pela crítica na época de seu lançamento, é o caráter problemático e perturbador de se veicular cenas tão violentas contra uma criança. Hit-Girl recebe socos, tiros e pontapés desferidos por homens com o triplo de seu tamanho.  Por mais que se trate de uma obra de ficção, e a personagem seja uma heroína, algumas dessas cenas não deixaram de me impactar. Sem duvida o filme é uma ótima oportunidade de se estudar a banalização da violência, dessa vez contra a criança. Felizmente, o inteligente tratamento que o filme dá para esse elemento da história não permite que fiquemos indignados com a situação (muitos espectadores nem ao menos vão levantar a questão), já que Hit-Girl bate muito mais que apanha. Além disso, a violência é muito mais gráfica, que realista, o que contribui para um certo distanciamento.

Chlöe Grace Moretz interpreta Hit-Girl. A jovem atriz nasceu em 1997.
Contando com uma trilha sonora fenomenal, uma direção de arte caprichosa e uma direção de fotografia excelente, Kick-Ass é a prova de que o cinema comercial pode ser de qualidade. Mesmo tendo um final previsível e mesmo obedecendo, no fundo, a uma fórmula de sucesso (dos filmes de super-herói), o longa-metragem consegue ser uma diversão inteligente e nada descartável. O diretor Matthew Vaughn acerta, principalmente, ao combinar com maestria e irreverência diversas influências: a comédia adolescente, a ação, o filme de gângster e a paródia. Que venha a continuação! 

Assista ao trailer:



4 comentários:

  1. Ótima crítica! Sou fã da menininha!

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  2. Vi o filme por causa da sua critica e amei! Fazia tempo que n ria tanto...

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  3. Amo os seus textos! Bjuuu

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  4. João Marcos- O filme é sensacional, e deve ser visto até por quem não curte quadrinhos!

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