segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Oscar 2011

O Oscar 2011 foi previsível e morno. Os apresentadores da noite estavam particularmente não-inspirados. As injustiças (que não foram muitas) já eram esperadas. Mas, felizmente, nenhuma aberração saiu premiada, como já aconteceram inúmeras vezes na premiação.  Não podemos tomar os vencedores do Oscar como os melhores do ano, é uma festa do cinema americano, em que inúmeros fatores estão em jogo: marketing, política, fama, popularidade, entre outros. No entanto, é ainda a premiação mais famosa do cinema e é super divertido  torcer por nossos filmes e atores favoritos.

Vamos aos resultados!


Direção de arte: Alice no país das maravilhas - Não gosto do filme, mas a direção de arte é merecedora do prêmio!

Melhor Fotografia: A Origem - Seu principal concorrente nesta categoria era Bravura Indômita do veterano Deakins. Não é injusto, mas Deakins merecia ganhar não só por este ano, mas pela carreira.

Atriz coadjuvante: Melissa Leo (O vencedor) - Discurso estranho, mas extremamente merecido o prêmio. Ela é uma grande atriz e arrasa no filme. Jacki Weaver também está excelente e também seria uma escolha interessante, mas é desconhecida do publico americano.

Melhor Curta de Animação: Lost Thing - Não visto.

Melhor Longa de Animação: Toy Story 3 - Amo este filme, por mim poderia facilmente ganhar o prêmio de Melhor Filme. Melhor do que o vencedor, ele é!

Melhor roteiro adaptado: A rede social - Excelente, uma boa escolha!

Melhor roteiro adaptado: O discurso do rei - O roteiro é bom, não foi injusto.

Melhor filme estrangeiro: Em um mundo melhor - Irei ver em breve.

Melhor ator coadjuvante: Christian Bale (O vencedor) - Quando falei de Psicopata Americano, afirmei que ele ganharia o Oscar este ano. Muito justo! Grande ator e grande desempenho neste filme. 

Melhor Trilha Sonora: A rede social - Muito injusto na minha opinião. A trilha de "A origem" é fantástica, muito mais bonita e inesquecível!

Melhor Mixagem de Som: A origem - Muito justo!

Melhor Edição de som: A origem - idem do anterior.

Melhor maquiagem: O lobisomem - Não visto.

Melhor figurinoAlice no país das maravilhas - Merecido prêmio. Belo e criativo trabalho.  

Melhor Curta Documentário: Strangers no more - Não visto.

Melhor Curta de Ficção: God of love - Não visto.

Melhor Longa documentário: Inside Job - Não visto. Ganhou do nosso brasileiro: a gente não da sorte mesmo no Oscar!

Melhores Efeitos Visuais: A Origem - Justíssimo, os efeitos são brilhantes!

Melhor Edição: A rede social - Prefiro "A Origem" e "A ilha do medo", mas não foram nem indicados.

Melhor Canção: Toy Story 3 - A melhor das indicadas (que eram todas fracas). E o compositor Randy Newman é fantástico! 

Melhor Diretor
: O discurso do Rei - Não é uma vergonha absurda o prêmio, mas com certeza é injusto: não é nem o melhor diretor do ano, nem dos indicados nesta categoria.

Melhor Atriz: Natalie Portman (Cisne Negro) - Justo! A atuação da carreira da atriz, uma grande entrega à personagem.

Melhor Ator: Colin Firth (O discurso do rei) - Merecido!

Melhor Filme: O discurso do Rei - Bom filme, mas não o melhor da lista e muito menos do ano. 

O discurso do Rei saiu como o grande vencedor da noite (Roteiro, Ator, Diretor e Filme).


Marnie - Confissões de uma ladra (1964)

Mais um Hitchcock! Explico: tenho que fazer o "sacrifício" de ver uma parte da filmografia do diretor inglês para uma disciplina da faculdade.

Muitos viram a cara, torcem o nariz para este filme. Tive a curiosidade de buscar a opinião de algumas pessoas que o viram e, enquanto uma minoria o descreve como genial, brilhante o melhor de Hitch, a maioria não gosta mesmo e alguns detestam! Marnie faz parte do final da carreira do diretor e não teve um orçamento considerável como "Os pássaros", por exemplo. Para variar, Hitchcock teve dificuldade para encontrar atores para os papéis do filme. Por exemplo, ele queria Rock Hudson e ganhou Sean Connery para o papel principal. Já Tippi Hedren (a mesma do já mencionado Os pássaros) não deveria ser nunca a primeira opção do diretor, se ele tinha algum juízo. 

Marnie é um filme que definitivamente não tem nada do humor delicioso de Hitchcock. A sinopse nos leva a crer que será um filme leve e engraçadinho como Ladrão de casaca, observe: uma ladra em série se vê como alvo da paixão da sua próxima vítima (detalhe: ele sabe que ela é uma ladra). Mas o filme não tem nada de comédia, ao contrário, é pesado e incômodo, um verdadeiro drama psicológico. E chamá-lo de drama psicológico é extremamente adequado, já que é, provavelmente, o filme mais freudiano do diretor. "Sexo" é uma palavra que aparece em filigrana durante todo o filme, o que não poderia ser mais freudiano.

Tippi Hedren dá vida a uma ladra de vários nomes e um grande trauma de infância. O esforço dela é comovente no papel; a personagem é interessante e ela dá o máximo que o modesto talento dela permite. Ela está melhor e mais bonita em Marnie, mas sua voz fina e infantil me incomodou muito mais desta vez. O drama, inclusive, permite que ela tenha boas cenas (mas é inevitável não imaginá-las com uma atriz melhor). Quanto a Sean Connery... dois anos antes, ele tinha feito a sua estreia como James Bond. Em Marnie, ele desempenha eficientemente o papel do apaixonado que deseja salvar sua amada de sua vida de crime e de seu trauma infantil. Para mim, Louise Lathan, a atriz que interpreta a mãe de Hedren, é a que mais se destaca e ela só tem duas cenas. Ao final, Marnie é um filme que tem grandes momentos dramáticos e pouco suspense. Acredito que, nos dias de hoje, o tema abordado possa parecer um pouco démodé e sua força dramática empalidecer. 

Ao que parece, pertenço à rara categoria daqueles que nem amaram e nem odiaram o filme. De qualquer maneira, vale a pena conferir este Hitchcock mais dark

Trailer (sem legendas):

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Psicopata americano - 2000

Christian Bale, interpreta o psicopata narcisista Patrick Bateman.
Estou me sentindo ligeiramente doido após assistir a este insano Psicopata Americano. O filme é uma constante hibridação de gêneros e tons. O espectador nunca sabe onde está pisando, ou melhor, a que tipo de filme está assistindo. O filme sai do extremo trash, vai para o drama psicológico, passa pelo humor negro, visita o thriller e chega ao terror (não necessariamente nesta mesma ordem). De fato, nesta obra do ano 2000, nada é o que parece; desde sua forma até o seu conteúdo, temos um grande jogo de aparências.

Embarcando na onda alucinatória do filme, acredito que ele é uma fábula sobre todas as mazelas que atingem o "homem moderno". Nele, temos retratados: o individualismo, a competitividade, o consumismo, a vaidade extrema, o narcisismo, a ambição, o egocentrismo e a falta de conteúdo. Tudo isso é personificado com brilhantismo na perfeita atuação de Christian Bale, o psicopata americano.  (O ator vai finalmente ganhar o seu Oscar neste próximo domingo, dia 27, por The fighter.) Seu personagem em Psicopata é um bem sucedido executivo que admite ser um serial killer sem sentimentos.

Contando com um elenco cheio de nomes famosos, como Reese Witherspoon, Jared Leto, Willem Dafoe, e Josh Lucas, Psicopata Americano é, no mínino, um filme interessante. É curioso perceber, após 1h40 de filme e após a fantástica frase final, o maravilhoso trabalho de manipulação que a diretora Mary Harron conseguiu realizar sobre nós, espectadores.  Pouco conhecida e tendo muitos trabalhos na televisão (me espanta que nenhum deles seja em Dexter, série com o qual o filme estabelece certo diálogo), a diretora nos presenteia com uma obra crítica, instigante, estranha e criativa, que permite muitas interpretações e reflexões, mas que sabe também ser um ótimo entretenimento.

O filme ainda utiliza de maneira inteligente e divertida músicas do anos 80 e faz uma reconstituição farsesca da época. Gostaria de falar das ótimas cenas do filme, como uma certa perseguição com serra elétrica,  mas não quero diminuir o prazer de quem quiser embarcar nesta aventura louca e surpreendente.

Trailer (sem legenda):

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Os melhores insultos do cinema 1

Inspirado por um vídeo americano que elege os 100 maiores insultos do cinema, resolvi fazer a minha própria seleção, evidentemente mais modesta, dos seis xingamentos, que, na minha opinião, são os mais arrasadores da telona. Quem já não se divertiu secretamente ao ver alguém ser achincalhado? 

Não consegui encontrar todos os vídeos correspondentes, mas indico fortemente a assistir aos filmes. Quem se lembrar de outros insultos ultrajantes pode indicar para a próxima lista.

1 - Cena de Billy Madison, o herdeiro bobalhão (1995)

Este insulto é de deixar no chão! Provavelmente a melhor cena desta boba comédia de Sessão da Tarde com Adam Sandler e que fica para a posteridade como um dos insultos mais bem articulados do cinema. Para contextualizar, trata-se de uma competição de perguntas e respostas e o personagem de Sandler acaba de dar uma resposta. Pelo visto, dar um zero não era o suficiente!

Quem insulta:  "o apresentador", interpretado por Josh Mostel.

Quem é insultado:  Billy Madison, interpretado por Adam Sandler.

Fala original:

"Mr. Madison, what you've just said is one of the most insanely idiotic things I have ever heard. At no point in your rambling, incoherent response were you even close to anything that could be considered a rational thought. Everyone in this room is now dumber for having listened to it. I award you no points, and may God have mercy on your soul."

Fala traduzida:

"Senhor Madison o que acaba de dizer, foi uma das coisas mais insanamente idiotas que eu já ouvi, em nenhum momento de sua resposta incoerente, o senhor chegou perto do que pudesse ser considerado um pensamento racional. Todos neste salão estão mais burros por ter ouvido a isso. Não lhe concedo nenhum ponto e que Deus tenha piedade da sua alma." 



2 - Cena de As bruxas de Eastwick (1987)

Cher era uma ótima atriz! E, nesta cena do divertido As bruxas de Eastwick, ela tem um texto de arrasar qualquer Jack Nicholson. Completamente genial!

Quem insulta: Alexandra Medford, interpretada por Cher

Quem é insultado: Daryl Von Horne,  interpretado por Jack Nicholson

Fala original:

"I think... no, I am positive... that you are the most unattractive man I have ever met in my entire life. You know, in the short time we've been together, you have demonstrated EVERY loathsome characteristic of the male personality and even discovered a few new ones. You are physically repulsive, intellectually retarded, you're morally reprehensible, vulgar, insensitive, selfish, stupid, you have no taste, a lousy sense of humor and you smell. You're not even interesting enough to make me sick. "

Fala traduzida:

"Eu acho... não, eu tenho certeza. Você é o homem menos atraente que eu já conheci na minha vida. Você  sabia que, no curto período que estivemos juntos, você demonstrou todas as características mais desprezíveis da personalidade masculina e ainda descobriu algumas novas. Você é fisicamente repulsivo, intelectualmente retardado, moralmente repreensível, vulgar, insensível, egoísta, burro, você não tem bom gosto, tem um péssimo senso de humor e você fede. Você não é nem interessante o suficiente para me fazer vomitar."



3 - Cena de O nevoeiro (2007)

Descendo um pouco de nível, mas continuando com os grandes insultos, temos este feito pela fantástica Marcia Gay Harden no ótimo O nevoeiro. No filme, ela é uma religiosa completamente fanática e desequilibrada.

Quem insulta: Mrs. Carmody, interpretada por Marcia Gay Harden

Quem é insultado: Amanda Dunfrey, interpretada por Laurie Holden

Fala original:

"The day I need a friend like you, I'll just have myself a little squat and shit one out."


Fala traduzida:

"O dia que eu precisar de uma amiga como você, eu vou dar uma agachadinha e defecar uma."

Marcia Gay Harden, em "O nevoeiro"


4 - Cena de O grande Lebowski (1998)

Adoro este filme e este insulto é particularmente engraçado pela forma que o ator o interpreta e pela repetição do intraduzível e inusitado "jerk-off".

Quem insulta: chefe de polícia de Malibu, interpretado por Leon Russon

Quem é insultado: Lebowski (The Dude), interpretado por Jeff Bridges


Fala original:

"So let me make something plain. I don't like you sucking around, bothering our citizens, Lebowski. I don't like your jerk-off name. I don't like your jerk-off face. I don't like your jerk-off behavior, and I don't like you, jerk-off. Do I make myself clear?"

Fala traduzida:

"Então me deixa esclarecer uma coisa. Eu não gosto de ver você enchendo o saco por aí, incomodando nossos cidadãos, Lebowski. Não gosto da "porra" do seu nome. Eu não gosto da "porra" da sua cara. Eu não gosto da "porra" do seu comportamento, e eu não gosto de você, sua "porra"! Fui claro?"

Jeff Bridges "the dude"


5 - Cena de Melhor é Impossível (1997)

Jack Nicholson ofende Deus e todo mundo em Melhor é impossível, mas, nesta cena, ele consegue ofender todas as mulheres de uma vez só. Quando uma fã pergunta para o escritor Melvin Udall, como ele escreve tão bem sobre as mulheres ele responde com um grande insulto.

Quem insulta: Melvin Udall, interpretado por Jack Nicholson

Quem é insultado: todas as mulheres

Fala original:

"I think of a man, and I take away reason and accountability. "

Fala traduzida:

"Eu penso no homem e tiro dele a razão e a responsabilidade."


6 - Cena de Monty Python e o cálice sagrado (1975)

O que esperar da trupe de Monty Python a não ser um insulto completamente exdrúxulo, nonsense e genial?

Quem insulta: Guarda Francês, interpretado por John Cleese

Quem é insultado: soldados inimigos

Fala original:

" I don't want to talk to you no more, you empty headed animal food trough wiper. I fart in your general direction. Your mother was a hamster and your father smelt of elderberries."

Fala traduzida:

"Eu não quero falar mais com você, seu cabeça-vazia, comida de animal, ração de peixe. Eu peido em sua direção 'general'. Sua mãe era um hamster e seu pai fede a fruto de sabugueiro"

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Os pássaros - 1963

Um corpo que cai, Janela indiscreta, Os pássarosPsicose são os filmes mais celebrados de Hitchcock. Todos de sua fase americana. Na retrospectiva realizada pela Cinemateca de Paris, tive a oportunidade de assistir aos três primeiros, o que foi uma experiência fantástica de redescoberta.

Os pássaros é o último grande clássico do diretor, produzido em 1963. A trama do filme é simples: uma cidade do litoral americano, Bodega Bay, próxima a San Francisco, se vê como alvo de ataques de aves das mais diversas espécies. Junto a Psicose, este é o filme de Hitchcock que mais se aproxima do terror. Como é de costume em suas obras, uma mulher (normalmente uma loira platinada) é a responsável pela chegada do "mal" na vida dos personagens. Desta vez, quem ocupa este papel é a atriz Tippi Hedren. Sua personagem chega à cidade por causa de um namorado em potencial e, logo após, os ataques se iniciam.

Meu professor de cinema disse, uma vez, que Hedren era tão má atriz quanto a filha, a mais famosa Melanie Griffith, mas que Hitchcock conseguiu usar a sua falta de talento à favor do filme, ao filmar, por exemplo, em quadros estáticos as expressões da atriz no momento de uma certa explosão. Não tenho uma opinião tão dura da atriz, mas acho que podemos chamá-la de uma "canastrona " simpática, já que definitivamente ela não era (porque continua viva e na ativa e pode ter melhorado) muito expressiva. 

Os pássaros não conta com trilha sonora ou música de nenhum tipo, somente os sons das aves e o canto das crianças, ambos utilizados como amplificadores da tensão. O uso dos pássaros foi extremamente difícil e as cenas de ataque foram feitas com auxílio dos efeitos especiais disponíveis na época. A cena de ataque à personagem de Hedren foi filmada em uma semana, ao final da qual a atriz teve que ser levada para o hospital para recuperar-se da exaustão. O brilhantismo do filme consiste justamente na maneira como Hitchcock conseguiu filmar de maneira assustadoramente realista os ataques dos pássaros.

No elenco também temos Rod Taylor, Suzanne Pleshette e Jessica Tandy e ótimas participações menores. Provavelmente, dos quatro filmes citados inicialmente, este é o que tenha o roteiro menos interessante. Ele tenta, por exemplo, dar uma profundidade psicológica aos personagens de Hedren e Tandy, sem jamais conseguir. Nele, podemos observar também a ausência do humor e das tiradas sarcásticas tão comuns em filmes de Hitchcock. 

Se o roteiro não é tão inspirado, a direção não poderia ser mais impressionante. O diretor faz um magnífico uso do suspense ao introduzir a presença ameaçadora dos pássaros, o que faz o espectador, até hoje, tremer nas cadeiras. E o final não poderia ser mais interessante...

Veja algumas fotos deste grande filme:



Foto de ataque a Hedren, cena do filme que demorou uma semana para ser filmada.


Cena de perseguição às crianças.
Hitchcock e o seu humor peculiar...



Assista à ótima apresentação do filme feita pelo próprio Hitchcock (infelizmente sem legendas):


 


Strangers on a train (ou Pacto Sinistro) - 1951

Filme de 1951, do mestre Hitchcock, Strangers on a train (em português, mal traduzido por Pacto Sinistro), é uma das obras mais geniais do diretor, apesar de ser, injustamente, pouco conhecido. O filme é uma coleção de grandes momentos e cenas fantásticas. Não é um filme noir, mas sua fotografia explora bastante o jogo de luz e sombras e o clima de tensão e perversidade, o que nos remete a este estilo. O humor característico de Hitchcock continua presente, mas, desta vez, um humor negro, mais ácido do que o de costume.

O filme conta a história de um jogador de tênis, que vive um momento de ascensão na sua carreira e na sua vida social e que, em um "belo" dia, cruza com um estranho bem peculiar no trem. Este encontro vai mudar vida de ambos. Guy Haines, o tenista, é casado com uma mulher interesseira e adúltera. Bruno Antony, o outro, tem um pai dominador e rígido. Antony propõe um plano de assassinato cruzado, ele mataria a mulher do tenista e este mataria o seu pai. Segundo ele, um plano perfeito. Guy Haines não leva a sério a proposta, mas Bruno não desiste...

O filme permite análises muito interessantes, como, por exemplo, de como os dois personagens principais se opõe em termos de modelos sociais. Haines é o homem promissor que se encaixa ao sistema, que joga de acordo com as regras, é bonito, ambicioso, que saiu do nada e tem um ótimo futuro pela frente. Bruno é o oposto: rico, não aceita regras, confronta a autoridade do pai, não tem talento, nem ambições e não quer nada da vida, além de realizar suas pulsões. Em outra interpretação, podemos dizer que Bruno representa os impulsos obscuros de Haines.

Haines é interpretado pelo somente correto Farley Granger. Já Bruno Anthony é vivido de uma maneira magistral por Robert Walker. Grande surpresa do filme para mim. Não conhecia o ator e, pesquisando sobre ele, descobri que teve uma breve carreira e que morreu aos 32 anos!!! Ele era casado com a famosa atriz Jennifer Jones, que o abandonou para ficar com o poderoso produtor David O. Selznick. Esta desventura amorosa parece tê-lo marcado profundamente. Devido a uma crise nervosa, um psiquiatra lhe deu um medicamento ao qual o ator era extremamente alérgico, o que provocou sua morte. 

Infelizmente, o cinema foi privado prematuramente do talento de Walker. No entanto, ele está imortalizado como um dos melhores vilões de Hitchcock. Seu personagem é fascinante, complexo e imprevisível. De uma maneira inteligentemente sutil, mas ao mesmo tempo flagrante, Hitchcock e Walker (através de sua atuação), incluem no filme um ingrediente homoafetivo latente entre os dois personagens principais. A cena de abertura é, surpreendentemente, homoerótica.

Contando com sequências de arrepiar, como as do Parque de Diversões, Strangers on a train é um thriller psicológico imperdível para quem ama cinema.   

Assista ao trailer:


Curiosidade: a filha do diretor, Patricia Hitchcock, participa do filme e não deixa a desejar!

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Conhecendo Mae West ...


                                 Mae West em "She done him wrong"

Devo confessar que estou um pouco assustado com Mae West. Durante a dupla sessão de seus 2 primeiros filmes como protagonista, "She done him wrong" e "I'm no angel" (ambos de 1933), por vários momentos, me peguei  chocado com a audácia desta mulher. Não há perdão para o fato de eu não ter visto nenhum de seus filmes até hoje, se bem que, se não fosse pela internet, encontrá-los em lojas e locadoras talvez fosse uma árdua batalha. Ela tem o total de 12 filmes em sua filmografia, ou seja, poucos. Mesmo assim ela é uma das atrizes mais lembradas da Hollywood Clássica. Talvez usar a palavra atriz seja incorreto ao se referir a Mae West, ela não é uma atriz. Ela é uma performer, uma show-girl (assim como a maioria de suas personagens).

Mae West tinha 40 anos quando fez seus primeiros filmes, idade em que a maioria das beldades femininas da Hollywood Clássica começam a decadência em suas carreiras. Com bastante experiência no teatro de variedades nos Estados Unidos, Mae West escrevia suas próprias peças, assim como escreveria seus filmes posteriormente. Não sabia o que esperar de Mae West, tão famosa pelas suas frases de efeito... Mas, o seu primeiro filme "She done me wrong" não causou em efeito muito bom em mim. Talvez estivesse esperando a atriz, não a performer. Este filme é baseado numa peça anterior da moça, e, cinematograficamente, é  bem simples. O maior interesse dele é, provavelmente, a estreia de Mae como a estrela mais atrevida do cinema. Deparei-me com uma mulher roliça, com um andar extravagante, um olhar sempre caído e um sorriso malicioso. Parece sexy o suficiente para você?

A cada frase de Mae West a palavra sexo parece que vai pular da boca dela. E isto de uma forma tão desenvergonhada, que nos faz indagar sobre o nosso próprio pudor. Sem dúvida, ela é uma vanguardista (ela chegou a ser presa por atentado ao pudor ao escrever a peça "SEX"). Completamente à vontade com um assunto tabu nos anos 1930, Mae West mostra que mulher também tem desejos. Logo, em 1935, a censura vai chegar com força ao cinema americano e impedir que Mae West seja tão direta como em seus dois primeiros filmes. 

Se o primeiro filme de Mae não me conquistou, no segundo "I'm no angel" ela me seduziu. Suas personagens (que, ao que parece, são todas a mesma persona) tem uma autoconfiança sem limites e uma vulgaridade charmosa. Os diálogos são engraçadíssimos, ela tem tiradas deliciosas, picantes... e ainda temos a presença do muito jovem Cary Grant (que também está no primeiro filme, mas que está bem melhor no segundo).

Não dá para deixar de lado as grandes tiradas de Mae West. Aqui vão algumas dos filmes:

"Encontrei homens que não sabiam como beijar. Sempre achei tempo para ensiná-los."
 
"Quando sou boa sou ótima!!!! Mas quando sou má, sou melhor ainda."

"Não são os homens na minha vida que importam, é a vida nos meus homens." 

E a clássica e intraduzível:  Why don't you come up some time and see me? 

Mas as frases de Mae west e os diálogos de seus filmes merecem um post só para eles, o que eu farei após ver os 12 filmes desta figura única na história do cinema. 


Assista ao trailer de I'm no Angel:

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Declarações de amor no cinema

Uma das magias do cinema é o seu poder de capturar falas que ficam cristalizadas em nossa memória. Continuando na mesma levada romântica do último post, fiz uma seleção das declarações de amor que mais me deixaram com um sorriso bobo, me fizeram chorar, ou mesmo invejar o sortudo ou sortuda digno(a) de tais honrarias. Escolhi oito cenas, de filmes e épocas diferentes, que são representativas para mim... algumas podem parecer piegas, mas atire a primeira pedra quem não o é quando está apaixonado. Vejam a cena, o texto original e a versão em português!

1 - Harry e Sally - Feitos um para o outro (1989)

Billy Crystal não é nenhum galã de cinema, mas faz uma das melhores declarações que eu já vi... neste filme que é uma pérola da comédia romântica.

 

"I love that you get cold when it's 71 degrees out. I love that it takes you an hour and a half to order a sandwich. I love that you get a little crinkle above your nose when you're looking at me like I'm nuts. I love that after I spend the day with you, I can still smell your perfume on my clothes. And I love that you are the last person I want to talk to before I go to sleep at night. And it's not because I'm lonely, and it's not because it's New Year's Eve. I came here tonight because when you realize you want to spend the rest of your life with somebody, you want the rest of your life to start as soon as possible."

"Eu amo que você sinta frio quando está fazendo 21º lá fora. Amo que você leve uma hora e meia para escolher um sanduíche. Eu amo a ruguinha que você faz no nariz quando está olhando pra mim como se eu fosse maluco. Amo que, depois de ter passado o dia com você, eu possa continuar sentindo o seu perfume nas minhas roupas. E amo que você seja a última pessoa com quem eu quero falar antes de dormir à noite. E não é porque estou sozinho, e nem porque é noite de ano novo. Eu vim aqui esta noite porque quando você descobre que quer passar o resto da sua vida com alguém, você deseja que o resto de sua vida comece o mais rápido possível."

2 - Núpcias de escândalo (1940)

James Stewart ganhou o Oscar por esta declaração de amor 'cheia de vida' a Katharine Hepburn! 




"A magnificence that comes out of your eyes, in your voice, in the way you stand there, in the way you walk. You're lit from within, Tracy. You've got fires banked down in you, hearth-fires and holocausts. [...]
No, you're made out of flesh and blood. That's the blank, unholy surprise of it. You're the golden girl, Tracy. Full of life and warmth and delight."
"Uma magnificência que sai dos seus olhos, está em sua voz, na forma em que você está aí parada, no jeito que você anda. Você tem uma luz que vem de dentro, Tracy. Você tem fogos armazenados dentro de você, vulcões e holocaustos. [...] Não, você é feita de carne e sangue. Esta é a questão, a ímpia surpresa de tudo isso. Você é a garota dourada, Tracy. Cheia de vida e calor e prazer."

3 - 10 coisas que eu odeio em você - 1999

Um poema/declaração de amor (ou de ódio) de uma adolescente, em um dos melhores filmes sobre adolescentes... com uma tocante interpretação de Julia Stiles.

 

"I hate the way you talk to me, and the way you cut your hair. I hate the way you drive my car. I hate it when you stare. I hate your big dumb combat boots, and the way you read my mind. I hate you so much it makes me sick; it even makes me rhyme. I hate it, I hate the way you're always right. I hate it when you lie. I hate it when you make me laugh, even worse when you make me cry. I hate it when you're not around, and the fact that you didn't call. But mostly I hate the way I don't hate you. Not even close, not even a little bit, not even at all."

"Odeio o modo como fala comigo
E como corta o cabelo
Odeio como dirige o meu carro
E odeio o seu desleixo
Odeio suas enormes botas de combate
E como consegue ler minha mente
Eu odeio tanto isso em você
Que até me sinto doente
Odeio como está sempre certo
E odeio quando você mente
Odeio quando me faz rir muito
Ainda mais quando me faz chorar...
Odeio quando não está por perto
E o fato de não me ligar
Mas eu odeio principalmente
Não conseguir te odiar
Nem um pouco
Nem mesmo por um segundo
Nem mesmo só por te odiar"
4 - Um lugar chamado Nothing Hill - 1999

Julia Roberts corta o meu coração com esta frase. Hugh Grant diz que seria melhor se os dois não ficassem juntos por causa da fama da personagem e ela diz...


"And don't forget it: I'm also just a girl, standing in front of a boy, asking him to love her."

"E não se esqueça disto: eu também sou apenas uma menina, na frente de um menino, pedindo para ele amá-la."

5 - Simplesmente amor - 2003

Uma declaração de amor irresistível, original e triste...


"With any luck, by next year - I'll be going out with one of these girls.
[shows pictures of beautiful supermodels]
But for now, let me say - Without hope or agenda - Just because it's Christmas - And at Christmas you tell the truth - To me, you are perfect - And my wasted heart will love you - Until you look like this.
[picture of a mummy]
Merry Christmas."

"Com alguma sorte, no ano que vem - estarei saindo com alguma destas garotas. (fotos de modelos)
Mas, por agora, deixe-me dizer - sem esperança ou planos - só porque é Natal - (e no Natal você fala a verdade) - Para mim, você é perfeita - E meu arrasado coração vai amar você - Até que você fique assim (foto de uma múmia)."

6 - Num lago Dourado - 1981

Desta vez é a fantástica Katharine Hepburn que se declara... e em grande estilo.


"Listen to me, mister. You're my knight in shining armor. Don't you forget it. You're going to get back on that horse, and I'm going to be right behind you, holding on tight, and away we're gonna go, go, go!"

"Escute-me aqui, meu senhor. Você é meu cavaleiro em brilhante armadura. Não se esqueça disto. Você vai montar de novo neste cavalo e eu vou estar logo atrás de você, me segurando forte e, juntos, nós vamos, vamos, vamos..."


7 - Jerry Maguire - 1996

Apesar de eu detestar a atriz, a frase é fantástica... diz tudo com muito pouco.

 

"You've had me at hello!" 

"Você me ganhou no olá"  

8 - Melhor é impossível - 1997

O romantismo vem de onde menos se espera!



Melvin Udall: I've got a really great compliment for you, and it's true.
Carol Connelly: I'm so afraid you're about to say something awful.
Melvin Udall: Don't be pessimistic, it's not your style. Okay, here I go: Clearly, a mistake. I've got this, what - ailment? My doctor, a shrink that I used to go to all the time, he says that in fifty or sixty percent of the cases, a pill really helps. I *hate* pills, very dangerous thing, pills. Hate. I'm using the word "hate" here, about pills. Hate. My compliment is, that night when you came over and told me that you would never... well, you were there, you know what you said. Well, my compliment to you is, the next morning, I started taking the pills.
Carol Connelly: I don't quite get how that's a compliment for me.
Melvin Udall: You make me want to be a better man.
Carol Connelly: ...That's maybe the best compliment of my life.


"Você me faz querer ser um homem melhor" 



quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Confidências à meia-noite (Pillow Talk) - 1959


Pillow talk, título original deste filme de 1959, é uma expressão que designa uma conversa íntima e leve, normalmente acompanhada de carícias e chamegos. Esta "conversa de travesseiro" se dá ao acordar ou após uma noite de amor. O título brasileiro falha ao não transmitir este lado leve e, ao mesmo tempo, erótico presente no título original e que combina perfeitamente com o filme. 

A comédia romântica é estrelada por uma das mais célebres duplas do cinema: Doris Day e Rock Hudson (foto abaixo).


O argumento do filme é ótimo: em uma época em que ter linha telefônica em casa não era tão simples, duas pessoas vêem-se obrigadas a dividir a mesma linha. O problema é que quando um a utiliza, o outro não a pode usar e, além disso, um pode escutar toda a conversa do outro pelo telefone. Obviamente esta situação gera uma grande confusão. As duas pessoas unidas pela mesma linha telefônica são a decoradora Jan (Doris Day) e o compositor Brad (Rock Hudson).  Ele é mulherengo e cafajeste. Ela é solitária e workaholic.

Esta comédia romântica é um grande clássico do gênero e não perdeu seu charme até com o passar dos anos. Grande parte deste charme vem do carisma dos seus protagonistas e da química que eles mostram em cena. Doris Day e Rock Hudson formavam, realmente, um lindo casal  Não é por acaso que os americanos se apaixonaram por eles. Neste filme, Doris Day está adorável e Hudson mostra que não é apenas um galã. Ele encarna um personagem que poderia ser odiável, pela sua canalhice e machismo, mas que consegue seduzir também o espectador.

Os dois são amparados por coadjuvantes de peso: o ótimo Tony Randall e esta maravilhosa atriz que , para mim, sempre rouba a cena:



Essa é Thelma Ritler, eterna coadjuvante, presente em grandes filmes como A malvada e Janela Indiscreta. Minha cena favorita do filme é, justamente, comandada por ela, que, no filme, é a empregada alcoólatra de Jan. Nesta cena, o personagem de Hudson a procura para receber algumas dicas para conquistar Jan, então eles vão para um bar e veja o que acontece. Assista abaixo:





O filme é dirigido por Michael Gordon, especialista em comédias. Ele não é nenhum Billy Wilder, mas nos proporciona ótimos momentos, como a cena em que Doris Day dá uma palhinha e canta no bar... Bobo, romântico, engraçado e com diálogos que mesclam certa malícia e inocência, este filme me deu a sensação de ser transportado para os anos 50. Confidências à meia noite vai te deixar com um sorriso no rosto por muito tempo, mesmo depois do seu fim, isso se você gosta de comédias românticas...

Uma curiosidade do filme é que em uma cena o personagem de Hudson insinua que alguém no filme é gay (veja o filme e descubra quem), sendo que o ator era homossexual na vida real. O que torna tudo mais irônico.


domingo, 6 de fevereiro de 2011

Cenas que eu amo - Danças no cinema 1

O cinema já nos presenteou com ótimas cenas de danças, algumas clássicas como as de Gene Kelly e Fred Astaire. Nesta primeira lista, escolhi algumas cenas que me fazem rir. Selecionei filmes dos anos 1988 (ano em que eu nasci) e 1994.

1 - Os fantasmas se divertem - 1988

Adoro este filme do sempre inusitado Tim Burton. Além de ser super divertido, com efeitos especiais bem interessantes (alguns parecem serem feitos de massinha), o filme conta com cenas antológicas como esta dança ao redor da mesa ao som da música Banana boat. Observe o momento em que Catherine O'Hara começa a cantar a música, as caras e bocas dos personagens e a sincronia dos movimentos.



2 - Elvira, a rainha das trevas - 1988

Este filme é um clássico trash, com várias cenas de morrer de rir. A sequência final é um show da bruxa Elvira, com direito à famosa dança dos seios! Tem uma hora que ela faz até um rap (disso eu não lembrava)!



3 - O máskara - 1994

Mesmo quem não gosta do Jim Carrey tem que concordar que a sequência da rumba é  genial! Eu ainda me divirto com a cena que, ao final, ganha uma dimensão grandiosa.



4 - True Lies - 1994

Dirigido pelo grande James Cameron, o filme capricha nas cenas de ação, mas também é recheado de humor graças à fantástica Jamie Lee Curtis. Há pouco tempo, a atriz tinha anunciado que ia se aposentar, mas parece que mudou de ideia para o bem de nós, espectadores. Nesta cena, ela faz um strip e uma dança bem particular para o próprio marido (mas ela não sabe que é ele). O vídeo também mostra a transformação relâmpago dela para o encontro, a dança começa por volta dos 5 minutos.


5 -  Pulp Fiction - 1994

Esta cena deste novo clássico, de Tarantino, é uma das grandes cenas do filme. Temos Uma Thurman e Jonh Travolta arrasando nesta dança sensual e inusitada. Observe a seriedade dos atores e os passos super característicos da época!


A história de Adèle H. - 1975


Título original: L'Histoire d'Adèle H.
Lançamento: 1975
País: França
Direção: François Truffaut
Atores: Isabelle Adjani, Bruce Robinson, Sylvia Marriott, Cecil De Sausmarez.
Duração: 97 min
Gênero: Drama


Victor Hugo foi o autor mais celebrado da França, provavelmente um dos escritores mais populares de todos os tempos. Ícone não só literário, ele foi uma figura importante também pela sua ativa participação política no conturbado cenário francês do século XIX. Morto em 1885, seu funeral teve a presença de aproximadamente dois milhões de pessoas.

A história de Adèle H., filme francês de 1975, conta a história de Adèle Hugo, filha do escritor de Os miseráveis. A filha de Victor Hugo tornou-se uma personagem mítica de seu tempo. Seus diários foram descobertos posteriormente e revelaram ao mundo a história de um amor obsessivo. Adèle nasceu em 1830 e morreu em 1915, aos 85 anos. Durante o período de exílio de sua família na Ilha de Guernsey, motivado pela ascensão de Napoleão III ao poder, Adèle é seduzida por Albert Pinson, um oficial inglês. Em 1863, ela atravessa o Atlântico até Nova Escócia (EUA) atrás do grande amor da sua vida. O oficial, no entanto, não quer nada com ela. Ela faz de tudo para conquistá-lo, se humilha, pede dinheiro emprestado ao pai, persegue Albert, mas tudo em vão. Ela acaba ficando louca e passa o resto da sua vida (1872 – 1915) em um manicômio.

O filme é dirigido pelo grande cineasta e crítico francês, François Truffaut, que escolheu como protagonista de seu filme, uma atriz iniciante na época, a belíssima Isabelle Adjani. Adèle Hugo deve ter ficado bastante lisonjeada com a escolha de sua intérprete. Aos 19 anos, a atriz francesa seduziu o mundo com sua beleza e com seu talento, em uma performance intensa e emocionante.

Existem rumores que afirmam que Truffaut estava completamente obcecado pela jovem atriz. Anedotas a parte, o filme é dela. Uma atuação a ser apreciada cena a cena. Adèle H. é uma personagem completamente romanesca que busca o ideal, o sonho. São maravilhosas as cenas em que ela se entrega a escrita alucinante e poética de seu diário ou livro, como o chamava. Adèle H. é uma personagem hiperbólica, que manifesta um amor sem limites.

A direção de Truffaut é sublime. Em alguns momentos, parece que estamos diante de uma pintura, tamanha a perfeição da composição dos quadros, da direção de arte e da fotografia. A história de Adèle H. não só é uma ótima oportunidade de ver mais um grande filme de Truffaut e de ver Isabelle Adjani (indicada ao Oscar de Melhor Atriz) em um dos seus grandes papéis no cinema, mas também de conhecer a história verídica de uma mulher que perdeu toda a paz e sanidade por conta de um grande amor. 


Trailer do filme:

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

O discurso do rei - 2010

- Longas pausas são boas, adicionam solenidade às grandes ocasiões. 
- Então eu sou o rei mais solene que já existiu!


O discurso do rei conta a história do Duque de York (que viria a ser o Rei George VI do Reino Unido), segundo na linha de sucessão ao trono inglês. Por causa de uma gagueira crônica, ele se viu obrigado a procurar a ajuda de especialistas renomados que se revelam incapazes de lhe ajudar. George nasceu em 1895 e reinou de 1936 a 1952, ano em que morreu. No filme, sua mulher, Elizabeth, ao procurar ajuda para o marido, encontra um especialista australiano que possui uma abordagem nada convencional. 

Diversas matérias publicadas na época do lançamento do filme foram categóricas ao afirmar que o roteirista de O discurso do rei tomou algumas liberdades históricas, criando uma intimidade que não existiu entre o rei da Inglaterra e seu "fonoaudiólogo". Apesar de muitos historiadores virarem a cara para o filme, devido ao seu romantismo, O discurso do rei foi realmente baseado em fatos e documentos reais.

O filme inglês, vencedor de quatro Oscar’s, é extremamente bem produzido. A direção de arte, o figurino, a reconstituição de época são fantásticos. Tom Hooper, cineasta responsável pela obra, é um diretor com poucos trabalhos no cinema, mas que tem bastante experiência na televisão inglesa.  O discurso do rei é apenas seu segundo trabalho no cinema. Ele faz um bom trabalho: uma direção segura e interessante, apesar de convencional, assim como o próprio filme. Os Oscar’s de Melhor Filme e Melhor Direção foram um exagero que pode ser explicado pelo fato do filme ser o mais “certinho” e agradável entre os indicados no ano e também pela intensa campanha de marketing realizada para que ele saísse vitorioso na noite de premiação.

Colin Firth, Helena Bonhan Carter e Geoffrey Rush encabeçam um excelente elenco, formado, em sua maioria, por atores ingleses. Guy Pearce, sempre interessante, tem uma ótima participação no longa, interpretando o irmão mais velho de George. O grande destaque do filme é, sem dúvida, a dupla Firth e Rush. O primeiro tem a atuação mais marcante de sua carreira, o segundo entrega mais uma de suas belas composições (o grande ator australiano já ganhou o Oscar pelo excelente Shine). O roteiro de David Seidler, por sua vez, acerta ao investir na relação do rei e do plebeu, baseada em um crescente respeito e cumplicidade.

A produção inglesa pode ser encarada como uma representação da relação mestre-aluno, assim como elogiosa alegoria ao papel do professor, representado muito bem pelo personagem de Rush. O discurso do rei é um filme convencional, mas muito bem realizado, interpretado e com momentos verdadeiramente tocantes. A família real britânica e a Rainha Elizabeth elogiaram bastante a produção e apreciaram a maneira com a qual foi retratado o Rei George VI.


Assista ao trailer:

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Digam o que disserem - 1989

Lloyd Dobler, 19 anos, recém-formado do high school, se apaixona por Diane Court, 18 anos, oradora da turma. Ela ganhou uma bolsa para estudar na melhor universidade da Inglaterra. Ele, quando perguntado o que iria fazer da vida, responde:

"Eu não quero vender nada, comprar nada, ou processar nada como carreira. Eu não quero vender nada comprado ou processado; ou comprar nada vendido ou processado; ou processar, ou reparar nada vendido, comprado ou processado. Você sabe... como carreira. Eu não quero fazer nada desse tipo."

Deu para entender o drama?

Fiquei sabendo da existência deste Digam o que disserem através de uma lista de melhores filmes românticos de todos os tempos do site guardian.co.uk. Por mais que toda lista do tipo seja no mínimo duvidosa, é sempre útil para conhecermos novos filmes. Nunca tinha ouvido falar deste, que é o primeiro filme de Cameron Crowe, diretor de Quase Famosos e Jerry Maguire.

Com um argumento simples e não muito original, Crowe (que também é o roteirista do filme e que tem uma filmografia relativamente curta, com 9 filmes no currículo) consegue fazer deste pequeno filme, uma linda história de amor, ou melhor, uma linda história de primeiro amor... O filme focaliza o delicado momento de transição da adolescência para a vida adulta. O olhar de Crowe é carinhoso com os adolescentes mesmo quando eles fazem as coisas mais esdrúxulas. Essa sensibilidade ao encarar os personagens, fazem deles seres extremamente humanos e encantadores.

Lloyd, interpretado pelo talentoso John Cusack, parece decidido a não só conquistar Diane, mas também o espectador. É impossível não se identificar com a simplicidade e o romantismo do rapaz. Já a atriz Ione Skye, hoje pouco conhecida, é bastante eficiente ao nos convencer que sua personagem Diane é digna do amor de Lloyd e, ainda mais, que ela é realmente quase perfeita (ela tem um jeito de falar bem bunitim).

Quem gosta de filmes românticos, vai se apaixonar por este filme... e por este casal.

Veja o trailer (infelizmente não o achei com legenda):