sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Melancolia (2011)

Título original: Melancholia
Lançamento: 2011
País: Dinamarca, França, Alemanha, Itália, Suécia 
Direção: Lars von Trier 
Atores: Kirsten Dunst, Charlotte Gainsbourg, Kiefer Sutherland, Charlotte Rampling. 
Duração: 130 min 
Gênero: Drama/Ficção Científica




Lars Von Trier é conhecido por ser um dos cineastas mais pessimistas do cinema contemporâneo. Sua falta de fé na humanidade, ou melhor, sua consciência de que o ser humano é capaz das maiores atrocidades por motivos torpes ou obscuros se faz presente em boa parte de sua filmografia. Dito isso, Melancolia é o filme menos cruel do diretor. Apesar de narrar uma situação extrema, o fim do mundo, o diretor parece adotar um olhar mais complacente com o ser humano.

Melancolia
é dividido em duas partes, cada uma com o nome de uma das protagonistas: Justine (Kirsten Dunst) e Claire (Charlotte Gainsbourg). A primeira parte focaliza a festa de casamento de Justine, já a segunda, mostra a aproximação do planeta Melancholia que, ao que tudo indica, se chocará com a Terra. Assim como ocorreu em seu penúltimo filme, Lars Von Trier opta por iniciar sua narrativa com um prólogo que mostra imagens extremamente líricas em câmera lentíssima.

Dotados de uma plasticidade maravilhosa, esses planos iniciais se assemelham a pinturas e são carregados de simbologias.  Assim, os planos que mostram as raízes que prendem Justine ao solo e a mesma boiando em um rio (como a louca Ofélia de Hamlet), vestida de noiva, indicam a dificuldade da personagem em se entregar a uma nova etapa de sua vida, assim como sua resistência ao casamento. Impressiona também a fisionomia de Kirsten Dunst, impassível e obviamente melancólica. Coincidentemente, o prólogo de Melancolia carrega certa semelhança com a longa sequência que aborda a natureza, em A árvore da vida (2011).

Filmado em uma linda região da Suécia, o longa se passa basicamente em um belo e gigantesco château onde moram Claire, o marido e o filho. Na primeira parte do filme, vemos uma exuberante festa de casamento se transformar gradualmente em um pesadelo. Justine nos é apresentada como uma figura doce e feliz e, pouco a pouco, vemos essa máscara de felicidade desaparecer e sua personalidade depressiva vir à tona. Durante a festa, torna-se claro que Justine faz parte de uma família disfuncional, com um pai ausente e mulherengo, uma mãe amarga e uma irmã superprotetora. A personalidade melancólica de Justine revela ser um problema para família já que todos têm dificuldade de lidar com a mesma e insistem em perguntar se ela está feliz.

A segunda parte, ainda mais dramática, focaliza o medo e o desespero de Claire com a aproximação do planeta Melancholia e a possibilidade da colisão com a Terra. O tema do fim do mundo já foi tratado algumas vezes no cinema, mas provavelmente nunca de maneira tão dolorosamente realista. Assim, vemos a impotência do homem perante o incontrolável, a dor que vem do medo, a passagem lenta do tempo e a expectativa da morte. Além de ter que lidar com o próprio medo, Claire deve lidar com a prostração de Justine. É interessante observar, no entanto, que pouco a pouco esta se torna mais forte, como se toda sua melancolia fizesse finalmente sentido com a aproximação do fim do mundo.

Além de uma bela fotografia devidamente sombria e da maravilhosa trilha sonora, Melancolia é engrandecido com ótimas performances. Kirsten Dust tem seu melhor desempenho no cinema. Ela consegue comunicar a tristeza e dor de sua personagem apenas com o olhar. A talentosa Charlotte Gainsbourg também está excelente, repetindo a boa parceria com Lars Von Trier, com quem fez também Anticristo (2009). Kiefer Sutherland, Charlotte Rampling, John Hurt, Alexander Skarsgård e Stellan Skarsgård tem ótimas participações.

Melancolia
é mais uma grande obra de um dos cineastas mais controversos e interessantes da atualidade. Apesar de não ser tão intenso quanto Ondas do Destino (1996), tão violento quanto Dogville (2003) e tão ultrajante como Dançando no Escuro (2000), o novo filme de Lars Von Trier é uma fábula maravilhosa sobre a melancolia.


Assista ao trailer:

Um comentário:

  1. Se eu tenho algum desapontamento atual é com o circuito brasiliense que, até hoje, não trouxe Melancolia para a cidade, um filme que está no topo da minha lista. E, nossa, você me deixou com mais vontade de assistir. Agora é só esperar...
    Abraços

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